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19 de Abril de 2024
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    Artigo: Ainda Pão e Circo

    há 10 anos

    Por Paulo Maria de Aragão*

    A prevaricação, a crueldade e a dissolução acabaram com as antigas glórias de Roma. Quando a imoralidade invade a classe governante, influencia as camadas inferiores da sociedade. A devassidão dos costumes redunda em devassidão dos princípios. Predominam os sentimentos baixos e esmagam a força moral do caráter.

    Roma deve a sua decadência à corrupção e aos desmandos. Com efeito, a Senhora do Mundo sofreu a invasão de tribos selvagens saídas das florestas da Europa Central, ao tempo que ricos viviam imersos em deleites voluptuosos, os pobres arrastavam a existência na miséria e na mendicidade.

    Os dias de grande espetáculo no Coliseu eram considerados dias festivos para toda a cidade. Homens, mulheres e crianças acudiam ao sangrento espetáculo. Viam-se magistrados e senadores, funcionários do Estado, nobres e plebeus. Gladiadores adiantavam-se à presença do imperador e exclamavam: “Ave Caesar, morituri te salutant”. Davam as feras princípio à sua obra, que os gladiadores terminavam. O entretenimento durava até a noite, retirando-se o espectador ébrio de sangue.

    No Brasil, guardados os exageros, por séculos há o predomínio da roubalheira, da corrupção, de políticos impudentes, de juízes vendilhões e de marginais que hoje se escondem por trás da falta de compromisso democrático. Raros homens íntegros se atrevem a participar dos negócios governamentais. As decisões são tomadas para atender promessas oficiosas de campanha. Não é de hoje a espúria distribuição de cargos para garantir alianças partidárias e apoio parlamentar.

    O mais grave é serem os cargos preenchidos por qualquer apaniguado, seja ladino, seja détraqué. Isso não importa, o importante é “quem indica” ou QI. Pobre democracia, transformada num verdadeiro balcão de negócios! Os escândalos institucionais, em sequência, são infindos e abafados. Há um flagrante mal-estar social com a maneira de se fazer política.

    Ora, há de falar-se em bons gestores quando a administração é dirigida por pessoas descomprometidas com a ética e a moral, requisitos indispensáveis aos anseios da sociedade? Uma questão de bom senso: poderá haver eficiência de setores orquestrados pela incompetência e desonestidade? É como confiar o galinheiro à raposa, isto é, aos sequazes do velho jargão: “Toma lá, dá cá”.

    Diferentemente da antiga Roma, revela o óbvio ululante: numa distância de tempo inimaginável, impossível seria fazer um comparativo entre a queda daquele império e a nossa realidade, não obstante serem ambas laceradas pela corrupção. Aquele império viveu período áureo; o Brasil, nem no monárquico, nem no republicano, o conheceu.

    Longe do vasto império romano, nem mesmo hoje, poder-se-ia comparar o Brasil com a atual república italiana. Esta ocupa o 24º. lugar no ranking dos países mais desenvolvidos do mundo, com o índice de qualidade de vida entre os dez primeiros e a educação básica em altíssimo nível.

    Aqui, carecemos de saúde, sistema educativo e segurança, mas não faltam bolsas de todo tipo, auxílios daqui, ajudas dacolá, que tanto incentivam a inércia dos compatriotas. Sem alarde, a violência se instalou entre nós: assaltos, arrastões, assassinatos, tráfico, tudo está banalizado. O governo, ao esbanjar milhões na construção de estádios para a Copa e preterir o setor de saúde, que está no fundo do poço, foi além dos limites. Contudo, a desfaçatez ocupará palanques eleitorais, e os demagogos irão dizer que a saúde está à beira da perfeição.

    Segundo os passos da história, sábio é quem aprende com o erro dos outros, qualidade essencial para os governantes. Oxalá o Brasil não incorresse nas mesmas causas da crise que provocou a queda do império romano. Apesar de indesejáveis, há tempos, algumas delas são exercitadas, como o estratagema do “pão e circo”. Isso ocorre, sobremodo na época eleitoral, quando a população carente e desinformada aflui aos forrós regados a cerveja e acaba esquecendo os graves problemas sociais, reduzindo as chances de protesto.

    (*) Paulo Maria de Aragão é advogado, professor e membro do Conselho Estadual da OAB-CE.

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/artigo-ainda-pao-e-circo/130186741

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